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A governança na família empresária

A governança na família empresária depende de interações entre pessoas - por isso, cada uma é uma história diferente

Na perspectiva de continuidade das famílias empresárias, a governança acontece não apenas no dia a dia dos negócios, mas também nas relações familiares e societárias. Por isso, ela é sentida e praticada de maneiras diferentes, de acordo com as pessoas envolvidas, os laços familiares, a configuração da família ampliada, e a interação com cada núcleo familiar. Literalmente, cada caso é um caso.


No caso da família empresária Schneider, governança é o pilar que permite sustentar uma atuação mais plural. “Se não tivéssemos uma governança bem estruturada, seria impossível atuar como atuo hoje, analisando participações em outros negócios e investimentos em startups”, comenta Leonardo Schneider, diretor superintendente da Apsa, sócio do Grupo Neider e membro da terceira geração. “Sem a governança, estaríamos no dia a dia do negócio e não conseguiríamos ter um olhar mais amplo”, acrescenta.


Ele conta que a virada começou a acontecer há cerca de 10 anos, mesmo já tendo uma sólida trajetória de estruturação da governança desde o início dos anos 2000. “Percebemos que era necessário diversificar para diminuir o risco e garantir a longevidade dos negócios, uma vez que uma empresa representava 90% dos resultados da família. Abrimos a mente e começamos a ver outras possibilidades, passando a ter sócios em outros negócios, que é algo a que não estávamos acostumados”, comenta. Nesse processo, a família estruturou comitês, com presença de representantes da família, que acompanham as startups investidas, prestam contas a um comitê estratégico, que então, se reporta ao Conselho de Administração da holding, que se reporta ao Conselho Sócio-Familiar.


Mas essa mudança para um novo modelo não é rápida, em grande parte porque envolve uma evolução da cultura de origem. “Ainda estamos nos adaptando. Sempre tratamos tudo dentro do Grupo Apsa, e agora a família toda precisa ter uma visão mais ampla, como Grupo Neider, pois passamos a investir em negócios em que somos minoritários, ou que temos que discutir as coisas fora da família. É um outro momento”, acrescenta Leonardo.


Em sua visão, esse é um processo que prepara o terreno para a quarta geração da Família Empresária Schneider, que atuará como uma “família de empresas”, e porque não dizer família investidora, com foco em várias frentes. “Mas, para que isso aconteça, precisamos voltar aos fundamentos, reforçando os valores e a cultura familiar para a nova geração”, diz.


Esse reforço depende, em grande parte, da chamada “governança invisível”, aquela mais relacionada às relações familiares e societárias. “A governança cresce acompanhando a evolução interna da família e a evolução externa do negócio”, comenta Frances Correa, conselheira de administração do Grupo Neider e membro da terceira geração.


Ela relata que o Grupo conta com um comitê de governança, que não faz parte das estruturas formais de governança. Esse comitê é composto por ela e 3 primos, com representantes dos núcleos familiares. “Na nossa família o comitê de governança, instituído informalmente, permitiu que a roda da governança funcionasse: neste comitê discutimos assuntos de gestão, da família e da sociedade, dando o encaminhamento correto nas estruturas adequadas”, comenta. “Esse mecanismo tornou o nosso processo de decisão mais rápido. Foi a forma que a nossa família encontrou para discutir os assuntos de forma organizada e nos fóruns específicos – Conselho de Administração, Conselho de Sócios e Conselho de Família”, afirma.


Frances e os primos Christian, Fernando e Leonardo atuam no Conselho de Administração da APSA (Frances e Christian) e na Diretoria Superintendente (Fernando e Leonardo) e trazem à pauta assuntos relacionados ao negócio, novas oportunidades de investimento e até mesmo interferências familiares no dia a dia da empresa. “A partir das reuniões do comitê de governança, amadurecemos as nossas relações, construímos um ambiente de confiança e, o mais importante, aprendemos a respeitar e valorizar as nossas diferenças. Com isso conseguíamos dar o encaminhamento correto para cada tema, trazendo mais confiança para as relações societárias e para a família empresária”, diz Frances. Foi o “óleo” para a roda da governança girar mais facilmente. “Esse processo gerou mais visibilidade e transparência nas coisas que estavam sendo feitas e decididas”, conta.


A VIDA DEFINE OS CAMINHOS

A estruturação da governança também passa por questões societárias e, muitas vezes, elas saem dos caminhos tradicionais. É o que aconteceu com a família Valença, do Shopping CasaPark, em Brasília - DF. No fim dos anos 60, quando sua esposa faleceu, o empreendedor Ivani Valença manteve a premissa de ter os 5 filhos como sócios – o mais velho, Ivan, tinha 19 anos à época. Os 50% das ações de seus negócios foram transferidos e isso fez com que, desde então, as decisões fossem tomadas sempre envolvendo as duas gerações.


“Nossa gestão sempre foi única”, admite Iran Valença, superintendente do CasaPark e membro da segunda geração. “Minha mãe era uma mãe espetacular, mas não se envolvia nos negócios, sempre dedicada à família e à casa. Então por muito tempo meu pai não precisou discutir nada com ninguém e todos nós precisamos aprender a chegar a um entendimento que fosse bom para toda a família”, comenta.


Quando a família resolveu abrir um shopping center de decoração na capital federal, Ivani não quis se envolver na gestão – seu sonho era administrar a fazenda – e passou a atuar como um conselheiro de seus filhos, agora empreendedores, embora não houvesse um Conselho de Administração formal.


“Meu pai nos acompanhou, ensinou, ajudou com sua visão e competência, e fez com que a gente criasse a cultura de atuar como família, sempre unidos. E nisso crescemos, nos estruturamos e desenvolvemos um negócio inovador do qual não tínhamos conhecimento prévio. Esse é o poder dos bons relacionamentos familiares”, conclui.


O exercício dos irmãos Valença – Ivan, Ivana, Iran, Isabela e Maria Thereza (Tetê) – de fazer com que as decisões fossem em conjunto os levou a constituir um fórum, onde debatem assuntos de família, patrimônio e empresa, com participação eventual do Sr. Ivani. Com alguns membros da quarta geração já em idade adulta, estudam a evolução desse modelo, para iniciar seu envolvimento em determinadas questões. A chamada “Reunião dos Irmãos” é a estrutura de governança vigente, que fortalece o negócio, as relações e traz cada vez mais transparência e união.


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