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COMUNICAÇÃO EM BUSCA DE SOLUÇÕES

por Ana Paula Peron / Fábio Otuzi Brotto / Roberto Gonçalves Martini / Sidnei da Costa Soares



Você pode imaginar o quanto impregnamos nossas relações cotidianas com julgamentos de toda espécie? Como contaminamos nossas relações quando nos alteramos com emoções que nos arrebatam e nos tiram do prumo? O quanto nossas opiniões podem nos manter distantes das pessoas e de nossas reais necessidades?


Todos sabem que a comunicação pode ser um poderoso instrumento para solucionar problemas, se utilizado com consciência e inteligência. Grande parte das dificuldades entre casais, pais e filhos, empregados e empregadores, vizinhos, sócios, etc., pode ser amenizada, solucionada e frequentemente evitada apenas com palavras. É aqui que entra a Comunicação Não-Violenta.


A Comunicação Não-Violenta, ou CNV, é um método estruturado por Marshall Rosenberg, psicólogo americano da escola humanista da psicologia. Nesta metodologia, cada pessoa assume a responsabilidade por suas emoções, ou seja, não importa o que o outro fez, mas o que eu faço com aquilo que ele fez. Trata-se de assumir o seu próprio poder e, ao contrário da vitimização, escolher um caminho para transformar aquela situação ou conflito.


Maslow(*1) nos mostrou que os seres humanos são movidos por necessidades como nutrição, segurança, autonomia, compreensão, criatividade, afeto, diversão, descanso, espiritualidade. Quando alguma dessas necessidades não é atendida, o indivíduo reclama. Se esta situação é recorrente, permanente ou intensa, manifesta-se como um conflito, que pode escalonar e manifestar-se de maneira violenta.


Para Rosenberg, cada reação violenta é uma manifestação trágica de uma necessidade não atendida. Ocorre que todos nós temos necessidades e para que se estabeleça uma relação saudável é preciso que elas sejam compreendidas e, de alguma forma, atendidas. Em sua obra “Comunicação Não-Violenta - técnicas para aprimorar relacionamentos pessoais e profissionais”, Marshall cita uma frase do poeta Rumi(*2): “Para além da ideia do certo e do errado há um campo. Eu me encontrarei com você lá”.


Seria muito saudável se as pessoas fossem “alfabetizadas em CNV”. Esta é uma habilidade que pode ser desenvolvida a partir da prática cotidiana. Nascemos com esta capacidade. A criança quando se comunica de forma inocente e autêntica, mostra o que poderia ser nossa comunicação. Mais tarde reproduzimos os modelos que aprendemos pela cultura educacional cheios de filtros e deformações. Privados da comunicação autêntica, perdemos esta capacidade ao longo da vida, impulsionados a nos esconder atrás de uma máscara de bondade e obediência, aprisionando nossos sentimentos e nossas necessidades mais básicas, em uma verdadeira “escravidão” para agradar as outras pessoas.


De todo modo, se é no seio das famílias que os conflitos são mais frequentes, é também ali que se encontram as melhores condições para o exercício da CNV. O afeto e os vínculos existentes - amor, confiança, cuidado - podem melhorar ainda mais a conexão entre seus membros. Aplicada às relações familiares, a CNV promove, com segurança, uma escuta com presença, mais interessada e profunda. Uma fala mais autêntica. Uma compreensão mais empática.


A prática dentro da família pode se dar nos mais simples encontros cotidianos, a partir da consciência e mudança dos hábitos da comunicação superficial para uma comunicação mais cuidadosa, seguindo os 4 passos da CNV:


1- OBSERVAÇÃO: dizer o que observa sem julgar, sem fazer inferências e sem relacionar com outra situação


2- SENTIMENTO: relacionar seus sentimentos às suas próprias expectativas e não a ação do outro


3- NECESSIDADE: nomear com clareza suas necessidades, o que você precisa, valoriza e aprecia


4- PEDIDO: usar palavras, expressões e gestual de solicitação, não de ordem


A CNV é um belíssimo exercício para criar soluções criativas e sustentáveis, já que se preocupa com a autenticidade das expressões das necessidades de cada indivíduo. Percebemos na Comunicação Não-Violenta um especial potencial para a felicidade na medida em que somos convidados a aprender mais sobre nós mesmos, a compreender melhor as nossas próprias necessidades e as necessidades do outro, a compreender melhor nossos próprios pedidos e os pedidos do outro e também a saber nos colocar no lugar do outro, nos interessando mais por nós mesmos e pelo outro.


*1 Maslow, Abraham - psicólogo americano conhecido pela proposta Hierarquia das necessidades de Maslow *2 Rumi - poeta e mestre espiritual Persa do sec. XIII



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