Referência em governança, grupo Lwart colhe frutos do trabalho passado e lança as sementes para seu futuro.
Era uma vez quatro irmãos que sonhavam em empreender, tendo como ideal de sucesso uma chaminé, soltando os vapores que representariam produção e progresso. Os irmãos fizeram de tudo, até que numa viagem, há mais de 40 anos, conheceram um setor pouquíssimo explorado: a coleta e o rerrefino de óleos lubrificantes usados.
O projeto ganhou asas e a família empresária cresceu junto, se modernizando, aprimorando sua governança e se transformando em uma referência nacional.
A família Trecenti tem uma característica bem própria: gerações muito misturadas pela idade. Renato, o irmão mais novo da primeira geração. A segunda geração, hoje entre 40 e
70 anos, mistura-se aos mais velhos da terceira geração. E os membros da quarta geração ainda estão em idade escolar. Essa característica fez com que houvesse, mesmo na segunda geração, uma grande diferença de formação.
O que poderia ser um problema virou uma solução de longo prazo. A mescla de idades acabou criando pontes entre as gerações. “Desde cedo, eu e a Sara, minha esposa, tínhamos uma preocupação com a governança, a perenidade e a preparação da família para o futuro”, comenta Carlos Renato, filho de Renato Trecenti, um dos fundadores. No final dos anos 90, foram dados os primeiros passos para uma estrutura de governança. Toda a família se reuniu para conversar sobre as questões do negócio, debater e fixar duas regras: uma para os membros da família que quisessem trabalhar na empresa, e outra para dividendos. “Naquela época, eu e a Sara nos dispusemos a trabalhar a geração jovem para despertar questões de governança. Criamos o Conselho Junior, que tinha conversas periódicas, visitas à empresa e muitas leituras. Isso foi importante para criar sementes na terceira geração, que tem vários membros entre 40 e 50 anos”, comenta Carlos Renato, presidente do Conselho de Administração do Grupo.
Melhorias constantes
A construção da governança no Grupo Lwart aconteceu ao longo de mais de duas décadas e, na realidade, ainda é um processo em andamento. “Sempre tivemos coisas a evoluir, seguindo o ritmo do engajamento e do consenso das pessoas sobre o que queremos para o nosso futuro”, diz Carlos Renato. Isso se faz ainda mais importante para a família empresária.
Em 2008, o Conselho de Administração passou a ser efetivo, inicialmente sem membros independentes. “Logo vimos que seria importante ter membros independentes, mas só em 2012 tivemos o consenso dos sócios a esse respeito”, conta. A ideia é respeitar o ritmo de forma a buscar a composição coletiva, sem nunca parar, mas unindo tradição e inovação.
Em 2018, depois da venda da Lwarcel Celulose, ficou claro que era preciso rever a governança. “A estrutura do grupo diminuiu e a família já estava em um momento diferente. Vimos que era adequado repensar”, diz.
Uma estratégia para a próxima década
Com a segunda geração entre 40 e 70 anos, e grande parte da terceira geração entre 30 e 50 anos, a família empresária passou por um dilema conceitual ao se organizar para o futuro: que geração precisa ter mais peso nas decisões para os próximos dez anos? “Em uma gestão hierárquica, seriam os mais velhos, é claro, mas precisamos abrir espaço para que os mais novos assumam suas responsabilidades. Adiar muito esse projeto pode gerar atritos e impedir que a empresa se abra para as inovações do mercado”, analisa Carlos Renato.
Assim, em 2019, o Conselho de Sócios foi renovado, com a entrada de três membros da terceira geração, como representantes de seus ramos familiares. “Foi um momento novo para nós, de estruturar o processo decisório e as incumbências para a próxima década”, explica. Também, o Conselho de Administração passou por mudanças, sendo reduzido para cinco membros, dos quais quatro conselheiros independentes. Os sócios definiram um mandato para o Conselho de Administração com diretrizes estratégicas para os próximos cinco anos. “Mudamos de uma visão de controle e gestão para uma visão mais ampla e estratégica. O novo momento dos negócios do Grupo, mais o crescimento da própria família, exigiu que ajustássemos nossa governança. ”
Em 2020, negócio e sociedade passaram por mudanças importantes. A decisão tomada em 2018 de vender a Lwarcel e buscar novas oportunidades levou a um reposicionamento de marca no negócio que deu origem ao Grupo. Em outubro de 2020, a Lwart Lubrificantes passa a se chamar Lwart Soluções Ambientais, aproveitando sua experiência em logística reversa. “Passamos com isso a atuar na gestão de outros resíduos, ao mesmo tempo em que continuamos atentos a oportunidades em outros mercados”, afirma Carlos Renato.
Já a sociedade passou por uma transformação, com a saída de 3 dos 7 núcleos familiares. “Foi uma consequência de uma discussão saudável sobre os rumos futuros”, diz. Os 4 núcleos remanescentes compartilham uma visão mais alinhada sobre a estratégia e os caminhos para o crescimento na próxima década.
A saída de parte da família da sociedade gerou alterações nos órgãos de governança: o Conselho de Sócios, por exemplo, passou a contar com quatro membros, um de cada ramo familiar. Ao mesmo tempo, abriu-se mais espaço para a terceira geração, em um espírito de participação coletiva. “A cada seis meses, mudaremos a coordenação do CDS e faremos um rodízio dentro de cada ramo familiar, para que todos participem mais e o papel dos sócios na governança seja fortalecido”, comenta Ana Carina Trecenti, coordenadora do Conselho de Sócios.
O Conselho de Família também se tornou menor, mas mais alinhado. “Hoje temos objetivos mais claros e, como existe um alinhamento maior, as decisões ocorrem mais rapidamente”, diz Viviane Rorato, coordenadora do Conselho de Família e representante da terceira geração familiar.
Olhar para os pequenos
Embora a quarta geração esteja na infância, ela já está sendo preparada. “Temos pensado muito, no Conselho de Família, em como aproximá-los dos negócios e dos valores da família”, conta Viviane Rorato. Ela diz que a família tem buscado crescer unida, criando bases sólidas para a convivência familiar e para o desenvolvimento de uma sociedade fortalecida a partir de valores em comum.
Na assembleia familiar realizada no final de 2018, um teatro contando a história da família serve como exemplo de como transmitir esses valores. “É algo que está sendo feito com muito cuidado e carinho. Pode ser que eles não atuem na gestão do negócio, mas certamente serão sócios e, por isso, precisamos construir esse alinhamento desde cedo”, diz Viviane.
Com isso, continua sendo possível replicar o que acontecia quando o negócio começou a se expandir em Lençóis Paulista. As reuniões familiares em torno da bisavó Maria, os churrascos, os aniversários, tudo contribuiu para que a segunda e a terceira gerações crescessem bastante unidas. “Essas eram nossas assembleias familiares muito informais. Depois passou a ser algo mais formal e estruturado, porque o negócio exigia”, lembra Viviane.
Com isso, se a terceira geração cresceu com as reuniões de família, a quarta geração cresce com assembleias familiares anuais, momentos em que os adultos falam de governança e tomam decisões, enquanto os mais novos se aproximam para preparar o futuro da família empresária.